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Bill Kovach nas X jornadas de Comunicação Social

O conceituado jornalista norte-americano, Bill Kovach, esteve hoje na Universidade do Minho (UM) no âmbito das X jornadas da Comunicação Social. O vencedor de dois prémios Pulitzer apresentou o seu livro: “Elementos do Jornalismo” (Elements of Journalism), ficando depois à disposição da plateia para responder às perguntas que lhe fossem dirigidas.

O livro “Elementos do Jornalismo” escrito em conjunto com Tom Rosenstiel é o resultado das investigações que ambos realizaram, no contexto de um comité cujo objectivo é estudar as transformações, quer sociais, quer tecnológicas, e a forma como estas influenciam a actividade jornalística. A investigação desenrolou-se por via de conversas com outros jornalistas e também estudiosos do campo da comunicação provenientes de diversas áreas dos Estados Unidos da América.

A conversa teve como temas centrais a crescente pressão económica sobre os meios de comunicação e a perda de autonomia a que estes podem estar sujeitos. Focou ainda a interdependência que, na sua opinião, existe entre a democracia e a imprensa. De acordo com o estudioso dos media, estes dois conceitos evoluíram em conjunto, servindo a imprensa para formar os cidadãos e torná-los democraticamente activos, para que estes possam tomar decisões de forma consciente.

A questão da transparência e verdade dos factos noticiosos mereceu também muita atenção. Para Kovach, os jornalistas não se podem abstrair da sua responsabilidade social, pois o jornalismo tem como função servir as necessidades das pessoas. Para tal, o jornalista deve respeitar uma série de critérios que vão desde a confrontação das fontes até à verificação da veracidade da informação. Ao formular um texto o redactor deve ser transparente, isto é, deve deixar claro onde conseguiu a informação, quem fez as declarações e com que autoridade.

"Imagem dispensa palavra?"
A primeira parte da manhã foi ocupada por uma conferência de cariz mais teórico. Pela primeira vez na História das Jornadas houve um seminário que versou sobre questões da semiótica. Como proferiu Moisés Martins, este debate fugiu à lógica profissionalizante que as jornadas vinham apresentando, pautando-se por um interesse mais académico.

O presidente do Instituto de Ciências Sociais (ICS) fez-se acompanhar por Anabela Gradim, docente da Universidade da Beira Interior (UBI) e por Teresa Cruz, professora da Universidade Nova de Lisboa (UNL).

Anabela Gradim apresentou uma retrospectiva daquilo que tem sido um conflito entre palavra e imagem. Faz notar que esta dicotomia vem desde os tempos da fundação da religião judaico-cristã, e que desde aí, tem criado acesos debates no seio da cultura ocidental. Refere que nomes como Platão foram percursores de uma sociedade logocêntrica, que dá primazia à palavra, enquanto que outros, como Aristóteles, valorizam mais a imagem. Para a docente, a imagem não dispensa a palavra, antes, funciona como uma âncora que adensa, ainda mais, o poder da palavra. Prossegue, afirmando que no que toca às emoções, a imagem é mais poderosa que a palavra. Moisés Martins sustenta esta opinião, explicando que “diante uma imagem temos logo uma emoção”, enquanto que “na palavra, demora-se 5 ou 10 minutos para que se possa dizer” alguma coisa.

Teresa Cruz não definiu a sociedade ocidental logocêntrica, mas atribui à palavra um lugar central e cita a Bíblia, que nos diz em João 1:1 “No princípio era o Verbo e o Verbo era Deus”. Nas palavras de Moisés Martins este “é o mito fundador da civilização ocidental”. A docente abordou ainda a questão da imagem na publicidade e no marketing, aludindo ao lado económico da mesma. Moisés salienta a importância da palavra no discurso publicitário, asseverando que “a palavra é, sem dúvida, importante no discurso publicitário. Não há imagens sem palavras, caso contrário estas são inconsequentes, não têm sentido.”

No final do painel sobre este assunto, Moisés Martins considerou uma boa ideia da organização, a realização de “um debate alargado sobre as questões da comunicação e sobre a civilização ocidental e das transformações que nela ocorrem.” Para o docente de Semiótica, o painel cumpriu o objectivo de “propor diferentes pontos de vista para analisar e esclarecer os fenómenos”. “Tivemos aqui duas convidadas experimentadíssimas no mundo da estética e da sua junção com a comunicação e, portanto, creio que houve bons contributos para o entendimento das nossas circunstâncias culturais.”

Alberto José Teixeira;Alberto Miguel Teixeira; Marcos Sabino
Fotos: Transversal